A escassez de água é uma das questões mais urgentes do nosso tempo, afetando bilhões de pessoas ao redor do mundo. Os dados revelados por organizações internacionais pintam um cenário preocupante sobre o futuro dos recursos hídricos do planeta.

Segundo a UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), pelo menos 50% da população mundial - o equivalente a 4 bilhões de pessoas - já enfrenta falta de água em pelo menos um mês do ano. Este número impressionante demonstra que a crise hídrica não é mais uma ameaça distante, mas uma realidade presente para metade da humanidade.

As projeções para o futuro são ainda mais alarmantes. Até 2025, estima-se que 1,8 bilhão de pessoas enfrentarão o que a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) classifica como "escassez absoluta de água". Isso significa que essas populações não terão acesso a quantidade mínima de água necessária para suprir suas necessidades básicas.

A situação do acesso à água potável também é crítica. De acordo com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso à água potável segura, colocando em risco a saúde e o bem-estar de bilhões de pessoas.

Segundo a ONU, quando analisamos a distribuição do consumo de água, fica evidente onde estão as maiores demandas: a agricultura é responsável por 70% do consumo de recursos hídricos — a maior parte vai para a irrigação das plantações. A participação do setor agrícola aumenta em áreas com maior densidade populacional e falta d'água. O campo é seguido pela indústria, que responde por 20% da água utilizada em atividades humanas. O uso doméstico representa apenas 10% do consumo total, e a proporção de água potável que é bebida pela população equivale a menos de 1%.

No Brasil, segundo boletins de monitoramento de secas do Cemaden, mais de 3,800 dos municípios já enfrentam algum tipo de seca e mais de 50% dos rios estão sob pressão crescente, segundo estudos recentes realizados pela Universidade de São Paulo. A qualidade da água é baixa ou regular em 73% dos rios brasileiros, afirma um relatório da “Fundação SOS Mata Atlântica”. A vulnerabilidade já é estrutural em várias regiões e a qualidade da água piora devido ao esgoto sem tratamento, à poluição difusa da agricultura, ao desmatamento e à perda da vegetação de mata ciliar. Some-se a isso os padrões irregulares de chuva, secas cada vez mais longas e a expansão urbana que invade áreas de recarga. 

A verdade é: a maioria das fontes de água superficiais e subterrâneas está sendo super utilizada e subprotegida. Uma tempestade perfeita!

Preservar as fontes naturais de água significa repensar todo o ciclo da água, e a reutilização da água em larga escala é a ferramenta mais inteligente que se tem para aliviar a demanda sobre rios e aquíferos sob pressão e renovar as fontes naturais de água.

Embora o Brasil possua 12% das reservas de água doce do mundo, sua distribuição é assimétrica, concentrando a oferta hídrica em regiões de baixa densidade populacional, industrial ou agrícola, e é reutilizado menos de 1.5% do esgoto gerado, segundo dados do Instituto Reúso de Água

E se fosse possível alcançar um 5%? Seria uma grande conquista em termos de: 

  • Segurança hídrica – equivalente ao abastecimento estimado de mais 10 milhões de pessoas por ano (com base no volume projetado de esgoto gerado)
  • Universalização do saneamento – gerando receitas acessórias através de parcerias público-privadas para alavancar investimentos necessários em modernização de tratamento 
  • Alívio ambiental – reduzindo as descargas não tratadas em rios e ecossistemas frágeis Competitividade industrial – fornece uma fonte alternativa de água confiável para as indústrias

Os Benefícios da Reutilização da Água

Embora o crescimento populacional, a industrialização acelerada e as mudanças climáticas estejam levando à escassez global de água, não precisa ser assim. Quase todos os desafios relacionados à água que enfrentamos têm uma solução que se adequa ao nosso modo de vida.

A reciclagem da água está abrindo caminho para um abastecimento hídrico mais resiliente, manifestando-se de muitas maneiras inovadoras. Tradicionalmente, quando uma instalação industrial utiliza água, geralmente trata esses efluentes de acordo com as normas locais vigentes e os descarta em um curso d'água local. Mas, e se essa instalação reciclasse e reutilizasse a água antes de finalmente tratá-la e descartá-la no meio ambiente?

Instalações industriais e centros de dados – ambos grandes consumidores de água – podem tratar suas águas residuais até atingirem uma qualidade adequada para uso como água de torre de resfriamento ou água de alimentação de caldeiras, reduzindo significativamente o consumo de água fresca e os custos operacionais.

Tratamento de Efluentes e Reuso Avançado: Soluções Tecnológicas Disponíveis

Para viabilizar a reutilização da água em escala industrial e municipal, a Veolia oferece diversas tecnologias avançadas que cobrem todas as etapas do processo de tratamento. Desde a clarificação inicial até sistemas avançados de purificação por membranas, essas soluções trabalham de forma integrada para transformar efluentes em recursos valiosos.

Na etapa de clarificação e remoção de sólidos, tecnologias como o Densator  oferecem clarificação de alta taxa com eficiência maximizada, enquanto o Hydrotech Discfilter proporciona filtração mecânica de alta performance para remoção de sólidos suspensos. O Multiflo complementa essas opções com uma solução compacta que maximiza a capacidade de tratamento em espaços reduzidos.

Para o tratamento biológico, especialmente em aplicações descentralizadas ou de pequena escala, o Ecodisk  oferece uma abordagem ecológica e econômica baseada em biodiscos rotativos, ideal para áreas rurais, pequenas comunidades ou instalações isoladas, com baixo consumo energético e simplicidade operacional.

Quando se trata de tecnologias avançadas de membrana para reuso de alta qualidade, o ZeeWeed™  MBR representa a próxima geração de biorreatores de membrana, reduzindo a área ocupada em até 50% e os custos de energia em até 20%, transformando efluentes em recursos valiosos.

Para aplicações que exigem os mais altos padrões de purificação, sistemas de osmose reversa como o PROflex oferecem flexibilidade e configuração personalizada, enquanto o CaptuRO™ maximiza a recuperação de água com alta eficiência, sendo especialmente relevante diante das limitações e custos crescentes do descarte de salmoura.

Conclusão

A combinação dessas tecnologias permite criar sistemas completos de tratamento e reuso que atendem às mais diversas necessidades, desde pequenas comunidades até grandes complexos industriais. Ao investir em soluções de reutilização da água, empresas e municípios não apenas reduzem seus custos operacionais e impacto ambiental, mas também contribuem ativamente para a construção de um futuro mais sustentável e resiliente.

A crise hídrica global exige ação imediata, mas as ferramentas para enfrentá-la já estão disponíveis. Com as tecnologias certas e o compromisso com a gestão sustentável dos recursos hídricos, podemos transformar o desafio da escassez de água em uma oportunidade de inovação e preservação ambiental para as próximas gerações.